Saturday, November 22, 2025

 A Madrugada

 Não morras de madrugada

com a tua Amada ali

passou a noite contigo

para veres um sorriso

no momento de acordar

está de mão dada contigo

não te deixará partir

iriam juntos, dizias

e agora mais do que nunca

é a hora de cumprir

é a hora de ficar

 

22 de Novembro, 2025

Thursday, November 20, 2025

RAVEL

 Oiço Ravel

a eterna Sagração da Vida

os segredos os mistérios

a pulsação secreta

por enquanto escondida.

Cada um leva consigo

a vida que é a sua

a vida que viveu.

As outras

já são vidas entregues,

vidas que os outros vivem

ouve-se Ravel que embala

mas na pulsação dos acordes

nada revela.

 

para a Ana Marques Gastão

Friday, November 07, 2025

Miguel Serras Pereira, DE SÚBITO NO AVESSO DA MEMÓRIA

Como sempre encontro logo a música subtil que envolve os seus poemas, escondendo alguma imagem secreta, por entre versos de sabor oriental. Saem livros dizendo que a poesia é para comer. Esta podia ser gamba doce, a doçura está lá e é tão boa. Falando de sabores, na verdade eu que não sou muito comilona fico presa ao ritmo, há um lirismo cantável, nestes ritmos, como no modo de tocar que nos hipnotiza em Glenn Gould, que estou a ouvir no Mezzo. Canta as notas que toca, e o Concerto adquire outra magia. Não é Bach, é Chopin, que tocado por Gould se torna igualmente incantatório. Vão leves as suas mãos e não sabemos por onde seguem as notas.

Como estes poemas de MIGUEL SERRAS PEREIRA, um grande do nosso universo poético que leio há muito tempo, e de novo agora tenho em mãos, por gentileza sua.

Um leitor de coisas rápidas, dirá são versos em poemas pequenos, e a nossa fome é grande. Gente que engole à pressa, não saboreia, não sente como Celan, cuja poesia nós apreciamos, que o menos é mais.

No avesso da memória tanta coisa se perde, outras vezes se ganha, embora já diluída, sem lamentos, como em Tanto dá. 

É o correr do tempo que por ali está a passar e nos leva para a página seguinte: 

Enquanto vamos:

É só a vida tudo o que não temos

e deixamos para trás enquanto vamos

ou nada já nos falta nem buscamos

porque é a vida só o que não temos

  

 O tempo e a vida, na inversão que se pode fazer, contrariando o Ser e o Tempo de Heidegger : o tempo é o ser que tudo atravessa, também nas pregas da memória, a vida é o tempo, retirado nas pregas, no avesso da memória.

Tão agradável a leitura que podemos repetir, sentindo na emoção o que também a nós corre na alma, não o excesso mas a míngua, mais um levíssimo acorde nos finos dedos de Glenn Gould.

Termino, lembrando ao Miguel, que me entenderá, que a memória não tem avesso, ela própria já é o avesso do que foi e será a vida...

Obrigada por esta bela leitura que me proporcionou para o fim de semana.


Tuesday, October 28, 2025

Origami

Origami

Chegava a Nau Catrineta

miniatura de cartão

pintada de azul celeste

com versos de um  poeta

que só via Portugal 

as suas brancas areias

como lençóis num estendal

estendido pelo mar escuro

 que o país ainda amava

apesar de o conhecer

e repetir os defeitos

mais versos no origami

era um barquinho perfeito

já pousado no destino

dos calhaus bem escolhidos

pedrinhas soltas a eito

para indicar os caminhos 

daquela nau tão esquecida

só ficara nas canções

nos versos do origami

tão pequeno e tão perfeito

num país que era tão pobre

mas que não era feio

tinha luz

tinha comida

e tinha uma luz escondida

para mostrar o barquinho

a quem nele fosse ver

o segredo das pedrinhas

equilibrando o destino

28 de Outubro, 2025

 



 

Saturday, October 25, 2025

Nuno Félix da Costa, Sabedoria

  SABEDORIA

Ainda não acabei de entender

o outro poema, só aparentemente mais fácil

já tenho aqui outro que impõe uma leitura que é 

ainda mais difícil, nada é fácil com a poesia

 de Nuno Félix da Costa

que carrega sempre uma noção científica e ou 

filosófica entre as linhas do poético.

Procuro então entender o poético.

Mas não é fácil o poético, porque também aqui

as linhas dos versos, por não ocultarem mistérios

mas revelarem o normal quotidiano do gesto 

 ou da situação repetida, conhecida, como o riso,

 nos deixa entregues a uma perplexidade inesperada.

 Como pode o banal ser poético? Onde me fixo? No título?

 Sabedoria?

Um mundo tão abrangente que se torna para um leitor comum

impossível mesmo de entender. Pode saber-se tudo e isso

é Sabedoria? Ou não saber nada e isso sim ser Sabedoria?

Com a enorme gargalhada que fez a criação do mundo, quem ria afinal?

Deus ou o diabo?

E porquê querer saber, se se morre na mesma, sabendo ou não sabendo?

Nada sabemos do que é revelado depois, como não sabíamos do que 

 não foi revelado antes.  Quem tinha rido na hora de chorar?

Faz sentido escrever, como busca de explicação?

Ou é mais sensato não fazer nada, deixar o tempo seguir

o grande devorador do passado e do presente

com todas as palavras possíveis que a seca ironia do riso

nos está a sacudir

a grande roda gigante concebida sem intenção de triturar



Monday, October 20, 2025

 A CHAVE

Coração despassarado

Coração meio perdido

a bater de porta em porta

nenhuma porta se abria

ele tem a chave na mão

que deixa por vezes cair

ficando a vê-la no chão

de que serviria a chave

se nenhuma porta abria?

O coração tão perdido

e por todos rejeitado

que caminho ia seguir

 se via tudo fechado?

Deixar-se ficar no chão

perto da chave caída

não era uma solução

que desse sentido à vida.

Monday, October 13, 2025

A Festa

Foram encontros tão bons!

A Susana Borges, sua primeira apresentação 

Num Wedekind que eu traduzi para o José Osório Mateus, O Despertar da Primavera, numa sala emprestada, sem dinheiro, sem meios, mas com tanta imaginação e criatividade, a alegria única que só no teatro se encontra...Susana, que prazer o reencontro na Festa que a Cristina organizou!